Almejamos neste blog colectivo revelar Cabo Verde para além do horizonte da bolha chamada “all-inclusive resorts” e debater uma proposta de turismo apoiado nas características únicas ao caboverdiano, o nosso património cultural e a diversidade ecológica do arquipélago.

Missão: Descobrir as ilhas de Cabo Verde, a sua gente, musica, dança, tradições e vivenciar a morabeza criola.

sábado, março 31, 2012

Dizem: "Cape Verde is top winter sun destinations" mas é bluff!!

Sustainability is a total must for Cape Verde Tourism
Foto: Miguel Monteiro




Interessante como a impressa cai no logro do lobby e faz do marketing jornalístico a noticia da temporada! É uma pratica comercial barata, o destino é apresentado como sedutor para garantir mais vendas e aí convém destacar rankings com critérios muito vagos de classificação. Tomar isso por noticia é amadorismo. Nada a ver com Jornalismo.



Em 2007, neste mesmo post que estou a re-escrever destaquei o seguinte:

"O sitetravelbite apresenta os destinos ensolarado de inverno ao mercado inglês e destaca o nosso país à frente de uma lista de destinos como Patagonia, Chile and Argentina, DominicaCaribbean, Darwin, northern AustraliaDohaQatar, La Palma, Canary Islands."


Em 2012 já tivemos sobre a imobiliária e esse que apresenta Cabo Verde entre destinos como o Dubai e New York. E agora mais este de 23 de Março: 

"HomeAway.co.uk recently welcomed the island group to its top ten holiday locations for the first time, and Skyscanner placed it among the top three emerging destinations.leia o artigo aqui.


Não seriam as instituições Caboverdianas a liderar esse processo e a administrar toda a lógica de promoção Institucional do destino? Nesse sentido quando o Turismo em Cabo Verde fosse reconhecido Internacionalmente seriam por critérios concretos relacionados à sustentabilidade, protecção ambiental, inclusão da população local, fomento do comercio local, da hotelaria nas comunidades e de um verdadeiro sentido de oferta turística à caboverdiana que faça o hospede querer voltar a viver a experiência de "cá estar" da autenticidade da morabeza.

Nada disso acontece  Ou seja de lá pra cá destacam o País e promovem a distribuição de turistas em exclusivo para os resorts da Boavista(47,2%)* e do Sal (42,9%)* enquanto do lado de cá continuamos com os mesmos problemas de fundo e todo o esforço de marketing que é feito via investimento público parece cair em saco roto. 

Se não somos nós a programar essa procura agravamos o actual risco de banalização do destino Cabo Verde. Esse "oba-oba" com a noticia distorce a realidade e continua-se a falar somente do que cresce e ignorando o que padece.  

*Dados do INE 2011

sexta-feira, março 09, 2012

Monte Trigo: ainda existem lugares assim?


Queres conhecer um lugar em Cabo Verde onde ainda as pessoas deixam a porta aberta e um vizinho entra para atender o telefone sem levar nada consigo ao sair? Ou onde se coloca o colchão na rua para dormir nas noites quentes e a subida da maré é a maior preocupação? Se já estás a preparar as malas para o conhecer, saiba que para alcançar a aldeia piscatória de Monte Trigo é preciso levantar-se bem cedo antes de se fazer à estrada.

Praia de seixos no Monte Trigo
Partindo do centro de Porto Novo é preciso cerca de duas horas de carro. Primeiro, uma estrada asfaltada interligada com outra calcetada e por fim a maior parte do percurso é feito por caminhos de terra e pedras que desafiam os motores mais potentes dos carros no alto das montanhas, ou não estaríamos nós na Ilha das Montanhas. No final da viagem ainda é preciso fazer-se ao mar num bote para completar a ligação entre a localidade de Tarrafal de Monte Trigo e Monte Trigo. Este trajecto dura quase quarenta e cinco minutos sobre o mar onde está um dos maiores bancos de pesca do país. Nesta altura a decisão de deixar o telemóvel ligado é irrelevante pois nenhum dos serviços das operadoras móveis estão disponíveis. Telefonar aqui só é possível pela rede fixa. 

Pedro Pires, o padeiro dos pescadores 

Pedro Pires mostra com orgulho 
o forno da sua padaria
Numa aldeia piscatória composta por cerca de duzentas e oitenta e quatro pessoas o mais provável é que fossem todos pescadores ou dependentes da pesca. Mas, Pedro Pires, de 57 anos e morador local, foge à regra e é padeiro. Dono da única “indústria” da zona, a sua padaria produz pães e bolachas com os cerca de dezoito quilos de farinha que levam dois dias para serem vendidos à população. O curioso é que Pedro Pires vende um pão de 100 gramas por sete escudos quando o preço máximo que se pode aplicar é de doze escudos. “Os sacos de farinha e açúcar são trazidos pelos pescadores nos botes e eles não me cobram nada. Por isso vendo a um preço justo à comunidade”, explica o padeiro que já criou sete filhos com os lucros deste negócio que “não o deixa dormir sem jantar”, como conta orgulhoso. 


Divertir-se em Monte Trigo 


Crianças descansando em 
um colchão na praia
Monte Trigo não tem muitas formas de diversão. A pequena praia de seixos e alguma areia preta e fina que serve para chegada e partida dos pescadores e visitantes é o local de eleição das suas gentes. Na sua orla encontram-se sempre crianças semi-nuas queimadas pelo sol que com pequenas canas de pesca vão apanhando peixes de pequeno porte. Cada peixe trazido para terra é motivo de discussão e risos de exibição entre as crianças. Se as possibilidades não derem para seguirem com os estudos já estarão a treinar naquele que poderá vir a ser seu futuro ofício e sustento da família. 

Após a faina no mar os fins-de-semana são habitualmente dedicados ao futebol. No minúsculo campo de terra batida que fica junto à praia defronta-se Marítimos e Natchok, as duas únicas equipas locais. Durante o jogo o grito “bola ao mar” faz parar a partida até que alguém vença as ondas e traga o esférico para terra debaixo dos braços. Que recomeçe o jogo. 

Os serões das noites são passados em família à frente da televisão. A localidade recebe os sinais dos canais RTP1, RTP-África, SIC, SportTV, Record Cabo Verde e Record, mas do canal da Televisão de Cabo Verde (TCV) nem sinal. O mesmo acontece com a Rádio de Cabo Verde (RCV) que não é sintonizada em Monte Trigo. 


Electricidade das 18:30 até 23:30 

Graciete Fortes
Em Monte Trigo as pessoas conservam os alimentos em frigoríficos a gás. Isto porque a energia eléctrica só está disponível no final da tarde até antes da meia-noite, como nos conta Graciete Fortes, uma moradora da localidade de 28 anos. “Aqui só temos electricidade durante todo o dia na festa de Santo António [3 de Junho] e no fim do ano”, explica Graciete e avança que todas as casas pagam 710 escudos mensais à Câmara Municipal pela energia eléctrica. Enquanto isso afirma que não pagam a água fornecida pelo Serviço Autónomo de Águas do Porto Novo porque a empresa espera que todas as casas estejam ligadas à rede antes de começar a cobrar. “Mesmo assim aqueles que não têm água canalizada podem comprar uma lata de vinte litros por um escudo na santina local. Eu, por exemplo, com duzentos escudos tenho água para cerca de três meses aqui em casa”, diz sorrindo. 

Por causa do isolamento os serviços de saúde são assegurados por um Agente Sanitário. As mulheres grávidas têm que fazer todo o percurso pela estrada para terem os filhos em Porto Novo ou então pela via marítima para darem à luz na ilha vizinha, São Vicente. 


A despedida… 

Durante a nossa viajem por Monte Trigo paramos numa casa para almoçar. Jorge, o “guia” que nos acompanhava durante a visita deixou sua bolsa com alguns litros de feijão e peixe seco no passeio da estrada e subiu ao terraço connosco para comer. Perguntámos-lhe se não tinha medo que alguém lhe roubasse as coisas ao que ele respondeu: “quem é que vai apanhar a bolsa se não lhes pertence?” e terminou sua refeição sem grandes preocupações. Na hora da partida despedimo-nos e Jorge apanhou sua bolsa e seguiu para casa. Ainda há lugares assim em Cabo Verde

Publicada (também) no Jornal A NAÇÃO 

Odair Varela é jornalista no jornal A NAÇÃO em Cabo Verde (na ilha de São Vicente) e também autor do blog: daivarela.blogspot.com 

quinta-feira, março 08, 2012

Preservação artificial ou natural?

Estava à procura de um tema para postar no blog e, na linha das anteriores, optei por tentar perceber duas realidades similares (ilhas) e projectos com objectivos iguais (preservar a natureza), mas com um amadurecimento, aparentemente, sem nada que se lhes compare. Tal como em Cabo Verde, na Madeira também se projecta a protecção da fauna e da flora, enfim, dos espaços naturais, com legislação, regras e acções muito fortes, com vista a proteger o que é natural, mas a meu ver de uma forma artificial.
Este artificial é mais no sentido de que, em sociedades realmente humanistas e naturalistas (algo que a Humanidade ainda não conseguiu), não deveria ser preciso tanta protecção para o que nós todos deveríamos preservar de forma natural. Mas adiante, que isso é utopia. Portanto, impossível nas próximas gerações.
No caso das ilhas na foto, a Reserva Natural das Ilhas Selvagens, situada bem a sul do arquipélago da Madeira (aliás, mais perto geograficamente de Canárias), esta foi criada em 1971, sendo uma das zonas protegidas mais antigas de Portugal e, por sinal, um exemplo no que toca à preservação das espécies, sobretudo das aves marinhas. Um exemplo e um alvo constante de cobiça de 'amantes' da vida selvagem, que constantemente a procuram para passeios, caça, pesca e tudo o mais que uma lancha/iate consiga alcançar. Apesar de tudo, nestes mais de 40 anos de protecção artificial de um santuário natural, o saldo pode ser considerado positivo.
Mais perto, nas ilhas Desertas, também reserva natural, protegida sobretudo pelos Lobos Marinhos, mamíferos marinhos que desde 1990 têm merecido atenção redobrada e, com sucesso, denota-se hoje, 21 anos depois, uma recuperação desta espécie num dos únicos redutos no mundo onde é possível encontrá-los. O feito é ainda maior porque, aquelas três ilhotas estão a poucas milhas (à vista) da ilha da Madeira e, portanto, alvo de muita atenção sobre um tão frágil ecossistema.
Por fim, o Parque Natural da Madeira, completa este ano 30 anos (1982) da sua criação e pretendeu proteger, por decreto, imagine-se 2/3 de toda a ilha... A Madeira tem mais três 'mini' parques naturais (uma delas a única em Portugal exclusivamente marítima), a rede de áreas marinhas protegidas da ilha do Porto Santo e, ainda, a grande Floresta Laurissilva, património natural da UNESCO. Tudo trabalho de décadas (www.pnm.pt) e que tem merecido elogios e reparos, erros e omissões, atentados e punições, mas sobretudo, deu muita visibilidade pública a sítios que antes eram desconhecidos. Quiçá ficassem na incógnita, talvez estivessem melhor protegidos...só que isso, hoje, é difícil de quantificar e avaliar.
No caso de Cabo Verde, a protecção por decreto das áreas sensíveis do ecossistema, surge bem mais tarde e, seguramente, está muito mais atrasada no tempo. Mas, pessoalmente, entendo termos muito mais condições de base para proteger as várias áreas sensíveis englobadas na Rede Nacional de Áreas Protegidas (criada em 2003), uma vez que hoje sabemos muito mais e podemos agir muito mais rapidamente, sobretudo tomando os maus e bons exemplos dos outros para melhor actuar.
Confesso que desconhecia alguns desses sítios e espécies abrangidas nos parques e reservas naturais de Cabo Verde. Mas, das que conhecia, a maioria, sempre as apreciei, admirei e amei como uma bênção. Mesmo numa terra inóspita e, por isso, pobre como a nossa e em que a maior parte da população tem mais do que se preocupar (sobreviver) em vez de proteger a natureza como missão, sempre achei que seria muito mais fácil agir, uma vez que sendo alguns desses locais pouco conhecidos ainda estavam a salvo dos 'abutres'...
Espero, pelo que vi (www.areasprotegidas.cv) e acompanho cá de longe, que esse trabalho esteja a ser bem feito. A bem do nosso futuro, nem que seja por decreto e à custa da nossa liberdade de desfrutar dessas zonas como nossos pais e avós faziam, que se faça então a preservação artificial do que deveria ser feito de forma natural.

Francisco Cardoso

sexta-feira, março 02, 2012

Nu ka podi kema Morabeza!

Confesso que quando vi o video Strelistas apanhou-me no primeiro instante. Com aquela lente aberta e um trabalho de imagem muito criativo, o spot revela a beleza fantástica das ilhas, as pessoas, os lugares e elementos da cultura "di nos povo". Então fui vendo e pondo o crédito da "publicidade ao álcool" à parte, até que tornou-se tão banal que tirou o gosto ao filme.
imagem do video : "nos e strelista"
Partilhei o video na minha pagina do Facebook mas senti que tinha de pedir desculpa!.....a apologia que fizeram ao álcool borrou a fita. Mostra Cabo Verde sim, mas os brindes e essa cena do grupo" bebum" no bar?? A nos é Strelista?!! Foi mau!! Lamento ter partilhado mas reconheço que esta foi de muito mau gosto.

A questão é delicada. Trata-se de garantir a sustentabilidade do conceito associado à marca Cabo Verde e de proteger a autenticidade da MORABEZA. O valor do país e do seu povo é soberano, desse jeito banaliza!! É que não tem preço nenhum no mundo que pague a Cultura.

Turismo é oportunidade grande, esta a mudar a realidade do país e o potencial só é limitado pelos limites da sustentabilidade. Vamos pensar e proteger o que é nosso? A sério! Nu ka pode kema Morabeza!

*"Tud gril quebra sê pedra
Pamode manhã ka tem prutchida
Y no kema morabeza
Ma distinu triste d' ilheu
Y no spaia sês pontinha
Na pratu fundu sen ftur."


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