Julgo ter sido o actual primeiro-ministro de Cabo Verde que disse que "o turismo é o nosso petróleo". Esta frase que, não sendo original, encerra a importância que o turismo tem para o desenvolvimento do País, na verdade, vendo de fora e de longe, esta ‘fortuna’ da sorte, pela bênção da Mãe Natureza, nos pode sair caro, caso não aprendamos com os erros dos outros.
É um tema que me desassossega, não obstante olhar Cabo Verde do exterior e não vivenciando o dia-a-dia do trabalho que é feito por todos os agentes de Turismo. Nos últimos anos só se houve falar de grandes unidades hoteleiras, resorts com tudo incluído , grande destaque nos Media internacionais (portugueses sobretudo) onde o nome Cabo Verde surge consecutivamente entre os preferidos dos turistas, seja no Verão ou seja na Páscoa e até, imagine-se, nas viagens de Fim-de-Ano e Carnaval, aumentos percentuais muito promissores de entradas, estadias e dormidas de turistas no nosso país. São tudo coisas boas, tudo notícias pela positiva, até o dia...
Esse dia em que os Media vão acordar e apontar agulhas não à beleza das praias, ao clima sempre ameno, à Morabeza do povo e à sua Cultura tão característica e cativante. Mas sim, ao impacto que todo este desenvolvimento (sobretudo dos grandes hotéis à beira-mar) tem tido ou não tem tido na qualidade destas ilhas(por hoje ainda um paraíso) e do bem-estar da sua gente. É que, de facto, temos nestas quatro vertentes o nosso ‘petróleo’. Por enquanto, e essa é a melhor notícia, fala-se pouco ou nada do mau desenvolvimento, aliás do fraco impacto que o ‘boom’ do Turismo tem tido junto de grande parte da população.
Podem dizer que não, mas é uma realidade. Promove-se Cabo Verde por que características?! Sol e praia, povo e música?! Ou há mais por explorar?! É possível que até se faça mais que isso e acredito que sim. Mas olhando para um simples guia turístico de Cabo Verde, editado por uma empresa nacional para 2010 e as “10 Boas razões para conhecer Cabo Verde”, estavam lá todas estas características resumidas em 10 frases simplórias. As primeiras sete falavam do clima e de tudo o que se pode fazer num país com “Verão todo o ano”, ou seja praia e sol. As duas seguintes falavam da Cultura (musical e gastronómica) e a última (para mim, a mais importante para potenciar o Turismo) é a tal de Morabeza. É óbvio que o guia tinha muito mais para ler, ver e conhecer. Ainda ontem, 9 de Abril, li uma notícia em A Semana, de mais um guia escrito curiosamente por uma jornalista e, pelo que li, a ‘receita’ (sol e praia, cultura e morabeza) é a mesma. É sempre a mesma.
Percebo, porque tenho algumas noções de Comunicação e Marketing, as razões das acções de promoção nos mercados externos, sobretudo aqueles que são os principais emissores de turistas ou aqueles que, potencialmente, poderão vir a desempenhar um papel importante no crescimento da procura. Segundo as últimas estatísticas (www.ine.cv), tanto em entrada de hóspedes nas unidades hoteleiras (475.294) como de dormidas (2.827.562), registaram-se aumentos em 2011 face a 2010 de 24,5% e 20,7%, respectivamente. Extraordinário aumento, pois são poucos os destinos nas imediações do nosso arquipélago que podem apresentar números tão bons, dada a crise que impera na Europa, o principal mercado emissor.
Dou dois exemplos próximos para mostrar o quanto o nosso ‘petróleo’ está ainda (e espera-se melhor) pouco explorado. Madeira teve em 2011 mais de 896 mil hóspedes entrados para mais de 5,5 milhões de dormidas. Canárias, cujas estatísticas mais recentes que encontrei reportam-se até Agosto de 2011, tinham mais de 1,8 milhões só em entradas de turistas e mais de 11 milhões de dormidas. Curiosamente, estes dois destinos têm nos britânicos e alemães o seu principal mercado, exactamente os que Cabo Verde tem apostado, e tiveram aumentos de 6,6 e 5% respectivamente face a 2010.
Até quando estes números continuarão a ser favoráveis, sabendo-se que Madeira e Canárias estão a léguas no (muitas vezes mau) desenvolvimento turístico?! Fica a questão para aprendermos a procurar outras formas de desenvolvimento e não secarmos o nosso ‘petróleo’. Se a aposta for errada, poderá sair muito caro face às consequências que podem daí advir.