Almejamos neste blog colectivo revelar Cabo Verde para além do horizonte da bolha chamada “all-inclusive resorts” e debater uma proposta de turismo apoiado nas características únicas ao caboverdiano, o nosso património cultural e a diversidade ecológica do arquipélago.

Missão: Descobrir as ilhas de Cabo Verde, a sua gente, musica, dança, tradições e vivenciar a morabeza criola.

sábado, maio 26, 2012

Estudo examina comportamento de banhistas de cinco continentes

Expedia.com – um conhecido website de bookings norte americano – conduziu um estudo online sobre os comportamentos e preferências de banhistas em cinco continentes, utilizando uma amostra de 8,599 adultos, distribuídos por 21 países.

Os resultados publicados no Flip Flop Report 2012, apontam para o facto da praia continuar a ser o destino de férias preferido da maior parte dos turistas.
O estudo dá-nos ainda parte do seguinte:
- A popularidade do destino “praia” é insuperável, com mais de metade dos correspondentes a planear as suas férias para este destino nos próximos 12 meses;
- Para a maior parte dos banhistas, as actividades de praia preferidas, são “relaxar” e “tomar banhos de sol”;
- Os banhistas alemães manifestam uma atitude mais permissiva no que toca o nudismo, com 15% dos inquiridos alemães a admitirem tomar banhos de sol nus. Seguidos dos indianos e espanhóis com 8% respectivamente;
- 50% dos turistas considera a presença de tubarões antes de decidirem ir de férias, mostrando ainda um considerável receio por uma ameaça tão rara. Adicionalmente, sabemos que 70% da população brasileira inquirida e 67% da população singapurense, foram os mais zelosos sobre a possível presença de tubarões no momento de marcar férias, enquanto apenas 3% dos italianos inquiridos pensam em tubarões antes de entrar sequer na água.


Através de estudos como este, fica relativamente fácil identificar determinados nichos de mercado e ponderar soluções e produtos de âmbito turístico, para satisfazer as necessidades dos consumidores existentes, ou mesmo antecipar as demandas de um mercado emergente, como forma de evitar eventuais constrangimentos na hora de receber turistas. Alguns destes constrangimentos passam por exemplo pela fraca oferta balnear que enfrentamos no arquipélago, por força de fenómenos como a erosão das nossas costas e respectivas praias.

Ao processo natural de erosão (e.g. acção das ondas, do vento e mais recentemente, o aumento dos níveis do mar), veio juntar-se nas últimas décadas a pressão antrópica (e.g. construção de estradas, habitações, complexos turísticos, infra-estruturas), contribuindo para o desaparecimento progressivo da areia nas praias de Cabo Verde.

Tomando como exemplo específico a ilha de Santiago, podemos constatar que a intensa extracção de sedimentos, tem levado ao desaparecimento de várias praias e está a causar a deterioração de muitas mais no arquipélago a uma velocidade preocupante. Este fenómeno é devido, ao aumento populacional da ilha nos últimos anos e à falta de acompanhamento de uma política focada em planos de gestão, ordenamento e desenvolvimento sustentado do litoral, como recurso natural para a potência económica do país.

Os mais atentos aos meios de comunicação sociais, como o Facebook, facilmente podem constatar o crescimento da consciencialização por parte dos caboverdianos, para a problemática da gestão real e do ordenamento do litoral como factor fundamental para a sustentabilidade das ilhas, implicando a demanda de estudos na área da geologia costeira, por modo a fornecer informação fundamental para ajuizar com objectividade o valor intrínseco do litoral e permitir a sustentabilidade e aplicação de projectos adequados. Um bom exemplo desta tendência, foi a recente manifestação levada a cabo pelos boavistenses, em relação ao projecto "Ilhéu Limpo e Seguro", para o qual foi dispensada à priori avaliação do Estudo do Impacto Ambiental pela Direcção Geral do Ambiente. 

"Frente ao facto consumado, muitos boavistenses recorreram ao Facebook para protestar contra aquilo que consideram insensibilidade e desrespeito contra um património natural." - ASemana 

De facto Cabo Verde apresenta-se aos turistas como um destino balnear, oferecendo nas fotografias praias de areia branca e mar azul, mas quantas destas praias estão realmente preparadas para satisfazer as expectativas  dos turistas que escolhem visitar as ilhas? 

Importantes passos têm sido dados no envolvimento da população para a preservação do meio ambiente em Cabo Verde, com especial foco na protecção das tartarugas que anualmente escolhem estas praias para depositar os seus ovos, mas que a cada dia que passa vêm este espaço retrair-se, em prol de interesses económicos que não satisfazem os interesses da população, como é o caso a construção de resorts que albergam os all inclusive, deixando de lado os populares e aniquilando desta forma progressiva francas intenções de praticar uma economia e um desenvolvimento sustentável, relembrando a máxima: "Satisfazer as necessidades da geração actual, sem comprometer as capacidades das gerações futuras de satisfazer as suas próprias necessidades". 

Este despertar social para as problemáticas de ordenamento e preservação dos recursos naturais, pode ter impacto directo no futuro, exigindo um padrão de ocupação do território caboverdiano, que respeite os valores ambientais deste, contribuindo para o seu desenvolvimento sustentado, o que em ilhas pequenas como as nossas dez pequenas pérolas do Atlântico, onde os recursos naturais são limitados, é fundamental.

quinta-feira, maio 10, 2012

O mar enrola na areia

O mar é o nosso destino. O mar é o nosso passado, o nosso presente e sobretudo o nosso futuro. E é sobre esse mar, que devemos preservar em todos os parâmetros da nossa relação com ele, que quero falar neste meu novo post. Mas não vou falar abrangentemente sobre os recursos marinhos, a salvaguarda das quotas de pesca, nem a exploração das energias das ondas ou da dessalinização das águas salgadas para água bebível.
Não, isso são temas para outros entendidos. O que vou falar é um tema tão banal quanto importante para um turismo 'comme il faut'. Os acessos ao mar, às praias, às nossas areias amarelas e pretas, águas cristalinas e azuis escuras. Sim, os acessos naturais ou artificiais.
Os primeiros implicando quase nada, a não ser as capacidades de cada um em caminhar dunas ao mesmo tempo andar sobre pedra rolada ou mesmo saltar poças naturais formadas na rocha dura destas ilhas. Sinceramente, sempre gostei desta 'brabeza' do acesso ao mar, saltar de uma rocha depois de 'fincar' o pé em rocha pontiaguda ou andar ao pé cochinho sobre areia quente, a escaldar, para chegar à água, ou no sentido contrário, aproveitar os pés molhados para correr de fininho até à toalha ou algo que arrefeça a sensível sola do pé. Essa é a pequena amostra da natureza, o momento mil vezes repetido e tão natural para muitos cabo-verdianos que, se nunca tiveram outra experiência, não sabem que existe o outro lado, menos natural.
Os segundos implicam investimento, intervenção, cimentização ou empedramento, no fundo desnaturalização dos acessos ao mar. Dão um ar ocidentalizado, desenvolvido, enfim, de primeiro Mundo nos acessos ao mar. São o ícone maior do intervencionismo simples. Mas, ao mesmo tempo, o exemplo dramático do que o Homem, na sua ânsia de aumentar o seu bem-estar e o dos visitantes que pagam para desfrutar as belezas naturais, é capaz de mudar para dar um ar mais desenvolvimentista à sua oferta turística.
Não faltam exemplos por este mundo fora de intervenções loucas na orla marítima sem qualquer respeito pela naturalidade das coisas. O maior e mais radical exemplo é o Dubai e a sua Palm Island ou a sua The World Island. As imagens dizem tudo do que não se deve fazer. Aliás, esta notícia do jornal britânico The Telegraph exemplifica o que a natureza é capaz de fazer para recuperar o que é sua.
Obviamente num país com parcos recursos como é Cabo Verde, não estaríamos a falar de intervenções pouco naturais como estas que exemplifico.
Mas são os pequenos passeios, as pequenas escadas, os pequenos acessos, os pequenos trilhos... no fundo as pequenas vontades de quem manda (políticos) e de quem tem dinheiro (investidores) que podem desbaratar anos e anos de trabalho - muitas vezes trabalho nenhum, porque a natureza é 'mãe' e não 'madrasta' e nos colocou nas mãos um bem inestimável -, porque a ganância e a ânsia já referidas em cima, acabam por nos deixar com aparência infra-estrutural de povo rico e país moderno e desenvolvido, mas na verdade mais pobres na essência.
E é sobre isto que me apeteceu falar.

Francisco Cardoso

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