Almejamos neste blog colectivo revelar Cabo Verde para além do horizonte da bolha chamada “all-inclusive resorts” e debater uma proposta de turismo apoiado nas características únicas ao caboverdiano, o nosso património cultural e a diversidade ecológica do arquipélago.

Missão: Descobrir as ilhas de Cabo Verde, a sua gente, musica, dança, tradições e vivenciar a morabeza criola.

sexta-feira, dezembro 14, 2012

Bush Bush - Uma história de turismo rural

CaboNed é uma empresa de turismo rural, formada por Etienne, um cidadão holandês e a sua esposa Marli, cabo-verdiana. A junção das suas nacionalidades deu nome ao sonho, e a paixão por Cabo Verde deu um telhado a Bush Bush, uma pitoresca guesthouse no coração de Santiago.


A minha experiência começa no café Sofia, onde Etienne combina de me apanhar. À hora marcada lá está com um sorriso estampado no rosto que eu quase descreveria com a própria palavra Morabeza.

Após trocadas as primeiras impressões sobre o tempo e a condução na ilha, Etienne fala da sua decisão em se mudar da Holanda para Santiago. A forma como foi recebido, a tranquilidade do interior, e a vontade de mudar de estilo de vida, conferiram a Etienne a segurança de tomar essa decisão e ser ele próprio a propor à esposa que se mudassem para Cabo Verde.


A pequena guesthouse da qual hoje são proprietários pertencia à avó de Marli e também dá lugar à habitação de ambos, após um árduo trabalho de remodelação. Ganhou o nome de Bush Bush por alguns visitantes, que assim a apelidaram devido à vasta flora que domina o local circundante (Cruz de Fundura e Boca Larga). 



Questionado sobre as maiores dificuldades que tiveram ao início, confessa que foi a burocracia com a sua documentação pessoal. Nunca pensou que seria tão difícil. Admitiu também que o transporte dos materiais foi outra questão complicada, mas estava psicologicamente preparado desde o início para esse obstáculo. A façanha foi orquestrada por "dezoito carrinhas Toyota Dyna de uma só vez!", recorda divertido.


O caminho é feito com muitas saudações, um “Bom dia”, um “Modi ki stadu” e muitos “Tudo dreto” num sotaque que todos já entendem muito bem. Conhecidos e desconhecidos param para contemplar o Land Rover e Etienne confessa: “Nem todos me conhecem, mas todos reconhecem o carro”.

Seguimos caminho por Librom, uma pequena aldeia ambientada com alguns dos sorrisos mais meigos da ilha e uma frescura inspiradora, que brota das suas ribeiras em forma, cor e cheiro de verde.


O caminho é difícil e agora entendo a escolha do Land Rover. Lembro-me de perguntar quanto tempo leva da Praia até a sua guesthouse, pelo caminho normal e sem hesitar diz-me orgulhoso: “Uma hora certa, mesmo a partir do aeroporto quando vou buscar os meus hospedes!


A divulgação do CaboNed é por enquanto feita apenas pelo próprio site da empresa e por duas agências na Holanda, especializadas em pacotes de viagens para Cabo Verde. Muitos dos hóspedes que recebem, são “Island Hoopers”, ou seja, viajantes que optam por conhecer várias ilhas do arquipélago de uma forma muito relaxada e aventureira, durante um determinado período de tempo. Para além da estadia, CaboNed oferece várias opções de hiking, viagens pela ilha e observação de pássaros. A zona privilegiada em que se encontram, “permite fazer vários trilhos e conhecer muitos lugares em perfeita harmonia com a natureza e o povo cabo-verdiano”, acrescenta orgulhoso.



O preço diário, da estadia por pessoa varia entre os 1925$00 (17€) e os 3850$00 (35€), dependendo do regime ou tempo que se pretende ficar. A comida, Etienne garante que é toda local. O que não produzem na sua pequena horta, compram aos agricultores locais, fazem questão que assim seja. Marli e uma auxiliar tratam da confecção de pratos locais como a cachupa, cuscus, caldo de peixe e outras iguarias.



Bush Bush tem capacidade para quatro pessoas ou um casal e três crianças. Está equipada com uma casa de banho de chuveiro, mini-sala de convívio e uma varanda. Um verdadeiro santuário de tranquilidade, onde normalmente é servido o pequeno-almoço e feito o plano para o dia.


Na varanda, Etienne aponta para o telhado e mostra as principais fontes de energia da casa. Um painel solar e um mini-moinho que geram energia suficiente para os pequenos eletrodomésticos e toda a iluminação da casa. “Em relação ao frigorífico, já temos de contar um pouco mais com a Electra, que falha bastante”, desabafa.



Em Bush Bush tenta-se viver da forma mais sustentável possível. Todas as lâmpadas da casa são LED e existe um sistema de aproveitamento das águas das chuvas. "Este ano foi muito boa e dará para pelo menos seis meses", garante Etienne.


O dia termina com o retorno pelo caminho que leva à vila de Orgãos e Etienne aproveita para me mostrar algumas das belezas circundantes, apontando e lamentando as imensas oportunidades de turismo rural e sustentável perdidas no interior da ilha de Santiago.

Fotos: Caboned

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