Almejamos neste blog colectivo revelar Cabo Verde para além do horizonte da bolha chamada “all-inclusive resorts” e debater uma proposta de turismo apoiado nas características únicas ao caboverdiano, o nosso património cultural e a diversidade ecológica do arquipélago.

Missão: Descobrir as ilhas de Cabo Verde, a sua gente, musica, dança, tradições e vivenciar a morabeza criola.

sábado, abril 28, 2012

Da cultura, do turismo… e uma espécie de ida a lugar nenhum

Em Guarulhos, São Paulo, a caminho de Maringá, Paraná, lembrei-me do turismo. Do nosso turismo. Da sua sustentabilidade ou tentativa de… e da arte. Coisas que fui vendo e pensando pelo caminho.

Não sendo uma novidade, exposições de arte nos aeroportos (nas estações de metro no caso lisboeta) poderá ser visto como uma forma de promoção turística do país e seus artistas. Não falo das lojas existentes nos aeroportos das ilhas, com produtos caríssimos, logo, comerciais, numa espécie de “fastfoodização” da arte nacional. Falo de feiras mensais (tipo os organizados ultimamente pela CMP) de artesanato de artistas desconhecidos. Eles agradecem, o país sai a ganhar e oportunidades poderão ser abertas a talentos jovens de expor seus produtos a preço de feira. Ao invés da arte do bang-bang nos bairros periféricos.

E agendas culturais (em papel ou virtual, já que somos o tal país moderno, do mundo novo e demais coisas digitais) nos aeroportos e portos ajudavam muito a economia nacional… houve uma época, há uns anos, que eu e mais quatro colegas propusemos coisa do tipo na Assomada, em algo chamado na altura de Plano Estratégico da Cultura. Associação cultura/turismo. Parceria Ministério da Cultura/Ministério tutelar do turismo. Só que da coisa nunca mais se soube nada… nem nós.

terça-feira, abril 10, 2012

Turismo, um ‘petróleo’ que pode sair caro


Julgo ter sido o actual primeiro-ministro de Cabo Verde que disse que "o turismo é o nosso petróleo". Esta frase que, não sendo original, encerra a importância que o turismo tem para o desenvolvimento do País, na verdade, vendo de fora e de longe,  esta ‘fortuna’ da sorte, pela bênção da Mãe Natureza, nos pode sair caro, caso não aprendamos com os erros dos outros.
É um tema que me desassossega, não obstante olhar Cabo Verde do exterior e não vivenciando o dia-a-dia do trabalho que é feito por todos os agentes de Turismo. Nos últimos anos só se houve falar de grandes unidades hoteleiras, resorts com tudo incluído , grande destaque nos Media internacionais (portugueses sobretudo) onde o nome Cabo Verde surge consecutivamente entre os preferidos dos turistas, seja no Verão ou seja na Páscoa e até, imagine-se, nas viagens de Fim-de-Ano e Carnaval, aumentos percentuais muito promissores de entradas, estadias e dormidas de turistas no nosso país. São tudo coisas boas, tudo notícias pela positiva, até o dia...
Esse dia em que os Media vão acordar e apontar agulhas não à beleza das praias, ao clima sempre ameno, à Morabeza do povo e à sua Cultura tão característica e cativante. Mas sim, ao impacto que todo este desenvolvimento (sobretudo dos grandes hotéis à beira-mar) tem tido ou não tem tido na qualidade destas ilhas(por hoje ainda um paraíso) e do bem-estar da sua gente. É que, de facto, temos nestas quatro vertentes o nosso ‘petróleo’. Por enquanto, e essa é a melhor notícia, fala-se pouco ou nada do mau desenvolvimento, aliás do fraco impacto que o ‘boom’ do Turismo tem tido junto de grande parte da população.
Podem dizer que não, mas é uma realidade. Promove-se Cabo Verde por que características?! Sol e praia, povo e música?! Ou há mais por explorar?! É possível que até se faça mais que isso e acredito que sim. Mas olhando para um simples guia turístico de Cabo Verde, editado por uma empresa nacional  para 2010 e as “10 Boas razões para conhecer Cabo Verde”, estavam lá todas estas características resumidas em 10 frases simplórias. As primeiras sete falavam do clima e de tudo o que se pode fazer num país com “Verão todo o ano”, ou seja praia e sol. As duas seguintes falavam da Cultura (musical e gastronómica) e a última (para mim, a mais importante para potenciar o Turismo) é a tal de Morabeza. É óbvio que o guia tinha muito mais para ler, ver e conhecer. Ainda ontem, 9 de Abril, li uma notícia em A Semana, de mais um guia escrito curiosamente por uma jornalista e, pelo que li, a ‘receita’ (sol e praia, cultura e morabeza) é a mesma. É sempre a mesma.
Percebo, porque tenho algumas noções de Comunicação e Marketing, as razões das acções de promoção nos mercados externos, sobretudo aqueles que são os principais emissores de turistas ou aqueles que, potencialmente, poderão vir a desempenhar um papel importante no crescimento da procura. Segundo as últimas estatísticas (www.ine.cv), tanto em entrada de hóspedes nas unidades hoteleiras (475.294) como de dormidas (2.827.562), registaram-se aumentos em 2011 face a 2010 de 24,5% e 20,7%, respectivamente. Extraordinário aumento, pois são poucos os destinos nas imediações do nosso arquipélago que podem apresentar números tão bons, dada a crise que impera na Europa, o principal mercado emissor.
Dou dois exemplos próximos para mostrar o quanto o nosso ‘petróleo’ está ainda (e espera-se melhor) pouco explorado. Madeira teve em 2011 mais de 896 mil hóspedes entrados para mais de 5,5 milhões de dormidas. Canárias, cujas estatísticas mais recentes que encontrei reportam-se até Agosto de 2011, tinham mais de 1,8 milhões só em entradas de turistas e mais de 11 milhões de dormidas. Curiosamente, estes dois destinos têm nos britânicos e alemães o seu principal mercado, exactamente os que Cabo Verde tem apostado, e tiveram aumentos de 6,6 e 5% respectivamente face a 2010.
Até quando estes números continuarão a ser favoráveis, sabendo-se que Madeira e Canárias estão a léguas no (muitas vezes mau) desenvolvimento turístico?! Fica a questão para aprendermos a procurar outras formas de desenvolvimento e não secarmos o nosso ‘petróleo’. Se a aposta for errada, poderá sair muito caro face às consequências que podem daí advir.

terça-feira, abril 03, 2012

O Mergulho como promoção de um Turismo Sustentável em Cabo Verde




Um dos aspectos associados ao Turismo em Cabo Verde, são as actividades ligadas ao mar, nomeadamente o mergulho recreativo. As imagens dos recifes, das tartarugas, são símbolos turísticos nacionais. Por força da influência e concentração turística, esta actividade está normalmente mais associada à ilha do Sal.

A boa notícia é que o mergulho é bom em todas as Ilhas, e Santiago não é excepção.

O mergulho em Santiago

Santiago é uma ilha característica pelo turismo de trabalho e por ser o centro industrial de Cabo Verde.
No entanto, ao contrário da Ilha do Sal, tem uma placa continental curta, a qual representa boas notícias para os amantes da prática do mergulho.


O mergulho na ilha de Santiago, é maioritariamente feito em paredes, promovendo a bio-diversidade que de uma forma ou de outra, consegue escapar à pesca insustentável praticada na maior parte do território nacional cabo-verdiano.

A água, normalmente cristalina que agora recomeça a aquecer, as paredes de Coral amarelo, os recantos, as inúmeras espécies e o azul, convidam a mergulhos inesquecíveis!



Cada vez que submergimos há novidades, todos os dias há espécies novas, movimentos novos, e todos os dias sentimo-nos livres e mais completos quando mergulhamos. E em Santiago existem dezenas de Spots de mergulho para todos os gostos, e muitas centenas ainda por descobrir.


A Magia do mergulho.
A magia do mergulho está em conseguirmos ir para onde quisermos. A gravidade não é um obstáculo. Entramos em contacto com um mundo completamente novo. A variedade de cores e formas e de seres, faz-nos perder a noção do tempo, faz-nos esquecer o stress do mundo lá fora. Somos nós e o Oceano. Apenas ouvimos o som da nossa respiração. Eventualmente, temos a sorte de ouvir baleias a comunicar, principalmente nesta altura. Tudo o resto é silêncio. Só nos apercebemos da presença de todos os seus habitantes, se estiverem no nosso campo de visão. É sempre uma surpresa.



Acredito que no mergulho conseguimos ter uma nova perspectiva relativamente à importância do ecossistema marinho, e ao nosso papel enquanto responsáveis pela sua preservação. É tão rico, resistente, mas infelizmente muito ameaçado.


Desafios no Presente e Futuro

Com a abertura das águas de Cabo Verde a uma série de países, em conjunto com a falta de fiscalização à prática da actividade local desses mesmos países, esta preservação está seriamente ameaçada.

Debaixo de água, é cada vez mais difícil ficarmos embasbacados com a presença de um grande peixe ou mamífero marinho. Vemos maioritariamente juvenis, que mesmo assim, têm dificuldade em escapar às redes da pesca costeira.



Na praia da Vila do Maio, por exemplo, local de nidificação de tartarugas, não se vê uma tartaruga há muitos anos, segundo relatos locais. Eventualmente, quando ainda aprecem algumas tartarugas para nidificar ao longo da costa, os ovos são roubados para alimentação, assim como o é a tartaruga... Tartaruga, esse símbolo turístico de Cabo Verde.
Deixo a pesca do Tubarão, outro símbolo característico de muitas t-shirts, para outro dia.

A corrida ao peixe começou há umas décadas, mas a insustentabilidade e a irreversibilidade da vida marinha em alguns locais é mais recente. Cabo Verde não é excepção, e os interesses políticos e financeiros não ficaram à margem do que aconteceu noutros países. A argumentação da entrada de capital para a construção deste país é uma ilusão, principalmente pelo preço que as populações que vivem da pesca artesanal, e por isso mais sustentável, começam já a pagar…


Alguns paradoxos de um Turismo Sustentável em Cabo Verde

Uma das principais potencialidades deste país é o Turismo. No entanto, o paradoxo é grande. Se o turismo vive da praia, da areia, das tartarugas, porque constroem hotéis com a areia da praia, em cima do território das tartarugas? Se o potencial de desenvolvimento a médio e longo prazo deste país, é o turismo e o mar, porque abrem as portas a todos os que já esgotaram os seus recursos naturais, para virem esgotar os recursos deste arquipélago e das suas populações? Porque promovem um turismo pouco integrado com a população?
Tendo em conta o número de crianças, porque não existe um pensamento a longo prazo a pensar no seu futuro?


Deixo o desafio.
Para os cépticos, para os que ignoram este problema, para os que nada fazem, para os que querem fazer mas não sabem como, para os que se preocupam, para os que se querem preocupar, para todas as pessoas que saibam ou não nadar, toda a gente, venham mergulhar! Venham ver o que há de belo e rico no fundo de mar de Cabo Verde, venham ver de perto do que estou a falar e tomem acção hoje!
Comprem produtos locais, comprem produtos que sejam provenientes de uma pesca sustentável, não comprem lagostas do tamanho de camarões, nem promovam o consumo de espécies protegidas.

O verdadeiro benefício de cada um de nós, passa pelo benefício de todos.

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