O mar é o nosso destino. O mar é o nosso passado, o nosso presente e sobretudo o nosso futuro. E é sobre esse mar, que devemos preservar em todos os parâmetros da nossa relação com ele, que quero falar neste meu novo post. Mas não vou falar abrangentemente sobre os recursos marinhos, a salvaguarda das quotas de pesca, nem a exploração das energias das ondas ou da dessalinização das águas salgadas para água bebível.
Não, isso são temas para outros entendidos. O que vou falar é um tema tão banal quanto importante para um turismo 'comme il faut'. Os acessos ao mar, às praias, às nossas areias amarelas e pretas, águas cristalinas e azuis escuras. Sim, os acessos naturais ou artificiais.
Os primeiros implicando quase nada, a não ser as capacidades de cada um em caminhar dunas ao mesmo tempo andar sobre pedra rolada ou mesmo saltar poças naturais formadas na rocha dura destas ilhas. Sinceramente, sempre gostei desta 'brabeza' do acesso ao mar, saltar de uma rocha depois de 'fincar' o pé em rocha pontiaguda ou andar ao pé cochinho sobre areia quente, a escaldar, para chegar à água, ou no sentido contrário, aproveitar os pés molhados para correr de fininho até à toalha ou algo que arrefeça a sensível sola do pé. Essa é a pequena amostra da natureza, o momento mil vezes repetido e tão natural para muitos cabo-verdianos que, se nunca tiveram outra experiência, não sabem que existe o outro lado, menos natural.
Os segundos implicam investimento, intervenção, cimentização ou empedramento, no fundo desnaturalização dos acessos ao mar. Dão um ar ocidentalizado, desenvolvido, enfim, de primeiro Mundo nos acessos ao mar. São o ícone maior do intervencionismo simples. Mas, ao mesmo tempo, o exemplo dramático do que o Homem, na sua ânsia de aumentar o seu bem-estar e o dos visitantes que pagam para desfrutar as belezas naturais, é capaz de mudar para dar um ar mais desenvolvimentista à sua oferta turística.
Não faltam exemplos por este mundo fora de intervenções loucas na orla marítima sem qualquer respeito pela naturalidade das coisas. O maior e mais radical exemplo é o Dubai e a sua Palm Island ou a sua The World Island. As imagens dizem tudo do que não se deve fazer. Aliás, esta notícia do jornal britânico The Telegraph exemplifica o que a natureza é capaz de fazer para recuperar o que é sua.
Obviamente num país com parcos recursos como é Cabo Verde, não estaríamos a falar de intervenções pouco naturais como estas que exemplifico.
Mas são os pequenos passeios, as pequenas escadas, os pequenos acessos, os pequenos trilhos... no fundo as pequenas vontades de quem manda (políticos) e de quem tem dinheiro (investidores) que podem desbaratar anos e anos de trabalho - muitas vezes trabalho nenhum, porque a natureza é 'mãe' e não 'madrasta' e nos colocou nas mãos um bem inestimável -, porque a ganância e a ânsia já referidas em cima, acabam por nos deixar com aparência infra-estrutural de povo rico e país moderno e desenvolvido, mas na verdade mais pobres na essência.E é sobre isto que me apeteceu falar.
Francisco Cardoso
2 comments:
Adorei esse texto, muito bom mesmo.
continua escrevendo sempre. amei
muito bonito super fixe nem acredito que existe um lugar assim
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