segunda-feira, janeiro 23, 2012

Uma verdadeira ponte precisa-se!

Turismo enquanto força motora do desenvolvimento ou enquanto divisor de águas?


Quando se fala na sustentabilidade do turismo recordo-me da afirmação de um especialista de que a actividade, no seu todo, tem de beneficiar o visitante e o residente. O desiquilibrio nas condições de oferta exclusivas para beneficio do visitante compromete o potencial do destino. A busca de um honesto equilíbrio na oferta turistica que tenha em conta a realidade da economia local, os valores culturais e os recursos ambientais é fundamental para a integração do turismo com a economia real.

Em Cabo Verde, apesar do discurso político de "estarmos a caminhar para a sustentabilidade", vivemos a dicotomia e a coexistência em paralelo da economia do turismo e da economia local. Apesar do peso do turismo no PIB o modelo "all-inclusive" é o grande motor que movimenta cerca de 300.000 turistas anuais e a meta do governo é incrementar esses números e atingir os 500.000 turistas nos próximos 2 anos. Contudo para a economia local esses números pouca diferença fazem. O all-inclusive é também all-exclusive em relação à realidade local e nesse caminho não se perspectiva nenhuma forma de integração das peças que fazem movimentar a economia local com o turismo.

Neste cenário todo o ganho deste modelo de oferta turística está no "cash" que se gera a curto prazo descurando todo e qualquer malefício presente ou futuro. Enquanto isso o desemprego, a pobreza, as perturbações sociais, a criminalidade, a degradação ambiental e o agravamento dos velhos problemas relacionados à insularidade avolumam-se e agravam-se com a falta de uma estratégia integrada de desenvolvimento.

É fundamental reverter esse cenário. A actividade turística é de tal forma transversal que afecta toda a actividade económica: da agricultura aos serviços toda a sociedade pode se beneficiar de uma verdadeira integração dos recursos da oferta turística. Pelas especificidades e diversidade da procura turística este sector  pode funcionar como o gatilho para o desenvolvimento. Se verdadeiramente houver uma aposta numa visão de desenvolvimento que tenha o turismo como ancora poderemos atacar os problemas do país de forma estratégica e integrada com o esforço que cada profissional exerce na labuta diária. Cada sector de actividade, cada empresa, cada estudante, cada familia e cada caboverdiano esclarecidos quanto a um propósito comum. Para além da remuneração directa o recém graduado em hotelaria precisa compreender o sentido do atendimento e como o sua boa prestação reflecte-se no sucesso do destino Cabo Verde. Essa busca pela qualidade passa por um sentido de missão e alinhamento de esforços.

Mas para começar essa prática requer um discurso ético. O estado enquanto promotor tem de assumir o discurso da sustentabilidade na prática. Discursos e planos sobre a sustentabilidade não estão reflectidos na prática e nem estamos para aí a caminhar se as condições que se tem criado beneficiam primeiro e unicamente o modelo all-inclusive descurando-se as necessidades locais.

Para além das insuperáveis condições de atracção do investimento externo, quando o governo investe na promoção do destino Cabo Verde, disponibilizando orçamentos para publicidade e outros recursos de comunicação está a beneficiar directamente os grandes operadores que já tem montado uma cadeia de atracção de turistas dos mercados de massa para os grandes resorts no Sal e na Boavista. Nessas condições como o privado nacional pode competir? 

De outro modo o enfoque na sustantabilidade está baseado em standards internacionais definidos por entidades que certificam a qualidade de um destino. A certificação abre caminho para mercados turísticos muito especificos. Certamente mais exigentes quanto à qualidade do destino, mas mais diversificados, interessados na qualidade de vida da população local e com elevado poder de compra. É o turismo responsável conhecido também como o turismo ecológico. 

Em Cabo Verde, pelas especificidades das ilhas a actividade económica, qualquer que ela seja, tem de ser profundamente responsável. O modelo all-inclusive pode coexistir com outras formas mais sustentáveis de oferta turistica mas tem de assumir a responsabilidade social. A implantação dos mega resorts na Boavista e os planos para a instalação de mais hoteis tendo em vista unicamente os números é a evidência da política real que existente no país. Consequentemente os problemas do país continuam a avolumar-se, os esforços multiplicam-se mas soluções parecem andar a passo de tartaruga ou de acordo com a politica neo-liberal a aguardar que a "mão-invisível" funcione.

2 comments:

Anónimo disse...

Muito bom! Tocaste no cerne da coisa.

Unknown disse...

Caro, temos que alargar o debate sobre o turismo para toda a sociedade civil. A abrangencia do tema n pode continuar exclusivo aos especilista pq no fundo trata-se de uma questão que nos afecta a todos. Aos especialistas compete ir ao detalhe das questões mas no que se refere à visão estratégia sinto-me à vontade para reflectir sobre. A presente reflexão deriva do trabalho que temos feito on-line na pagina www.facebook.com/morabeza.turismo onde nos propomos a descobrir Cabo Verde e os seus tesouros e aos mesmo tempo vamos debatendo a realidade do turismo que se practica nas ilhas.

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