Almejamos neste blog colectivo revelar Cabo Verde para além do horizonte da bolha chamada “all-inclusive resorts” e debater uma proposta de turismo apoiado nas características únicas ao caboverdiano, o nosso património cultural e a diversidade ecológica do arquipélago.

Missão: Descobrir as ilhas de Cabo Verde, a sua gente, musica, dança, tradições e vivenciar a morabeza criola.

sábado, março 31, 2012

Dizem: "Cape Verde is top winter sun destinations" mas é bluff!!

Sustainability is a total must for Cape Verde Tourism
Foto: Miguel Monteiro




Interessante como a impressa cai no logro do lobby e faz do marketing jornalístico a noticia da temporada! É uma pratica comercial barata, o destino é apresentado como sedutor para garantir mais vendas e aí convém destacar rankings com critérios muito vagos de classificação. Tomar isso por noticia é amadorismo. Nada a ver com Jornalismo.



Em 2007, neste mesmo post que estou a re-escrever destaquei o seguinte:

"O sitetravelbite apresenta os destinos ensolarado de inverno ao mercado inglês e destaca o nosso país à frente de uma lista de destinos como Patagonia, Chile and Argentina, DominicaCaribbean, Darwin, northern AustraliaDohaQatar, La Palma, Canary Islands."


Em 2012 já tivemos sobre a imobiliária e esse que apresenta Cabo Verde entre destinos como o Dubai e New York. E agora mais este de 23 de Março: 

"HomeAway.co.uk recently welcomed the island group to its top ten holiday locations for the first time, and Skyscanner placed it among the top three emerging destinations.leia o artigo aqui.


Não seriam as instituições Caboverdianas a liderar esse processo e a administrar toda a lógica de promoção Institucional do destino? Nesse sentido quando o Turismo em Cabo Verde fosse reconhecido Internacionalmente seriam por critérios concretos relacionados à sustentabilidade, protecção ambiental, inclusão da população local, fomento do comercio local, da hotelaria nas comunidades e de um verdadeiro sentido de oferta turística à caboverdiana que faça o hospede querer voltar a viver a experiência de "cá estar" da autenticidade da morabeza.

Nada disso acontece  Ou seja de lá pra cá destacam o País e promovem a distribuição de turistas em exclusivo para os resorts da Boavista(47,2%)* e do Sal (42,9%)* enquanto do lado de cá continuamos com os mesmos problemas de fundo e todo o esforço de marketing que é feito via investimento público parece cair em saco roto. 

Se não somos nós a programar essa procura agravamos o actual risco de banalização do destino Cabo Verde. Esse "oba-oba" com a noticia distorce a realidade e continua-se a falar somente do que cresce e ignorando o que padece.  

*Dados do INE 2011

sexta-feira, março 09, 2012

Monte Trigo: ainda existem lugares assim?


Queres conhecer um lugar em Cabo Verde onde ainda as pessoas deixam a porta aberta e um vizinho entra para atender o telefone sem levar nada consigo ao sair? Ou onde se coloca o colchão na rua para dormir nas noites quentes e a subida da maré é a maior preocupação? Se já estás a preparar as malas para o conhecer, saiba que para alcançar a aldeia piscatória de Monte Trigo é preciso levantar-se bem cedo antes de se fazer à estrada.

Praia de seixos no Monte Trigo
Partindo do centro de Porto Novo é preciso cerca de duas horas de carro. Primeiro, uma estrada asfaltada interligada com outra calcetada e por fim a maior parte do percurso é feito por caminhos de terra e pedras que desafiam os motores mais potentes dos carros no alto das montanhas, ou não estaríamos nós na Ilha das Montanhas. No final da viagem ainda é preciso fazer-se ao mar num bote para completar a ligação entre a localidade de Tarrafal de Monte Trigo e Monte Trigo. Este trajecto dura quase quarenta e cinco minutos sobre o mar onde está um dos maiores bancos de pesca do país. Nesta altura a decisão de deixar o telemóvel ligado é irrelevante pois nenhum dos serviços das operadoras móveis estão disponíveis. Telefonar aqui só é possível pela rede fixa. 

Pedro Pires, o padeiro dos pescadores 

Pedro Pires mostra com orgulho 
o forno da sua padaria
Numa aldeia piscatória composta por cerca de duzentas e oitenta e quatro pessoas o mais provável é que fossem todos pescadores ou dependentes da pesca. Mas, Pedro Pires, de 57 anos e morador local, foge à regra e é padeiro. Dono da única “indústria” da zona, a sua padaria produz pães e bolachas com os cerca de dezoito quilos de farinha que levam dois dias para serem vendidos à população. O curioso é que Pedro Pires vende um pão de 100 gramas por sete escudos quando o preço máximo que se pode aplicar é de doze escudos. “Os sacos de farinha e açúcar são trazidos pelos pescadores nos botes e eles não me cobram nada. Por isso vendo a um preço justo à comunidade”, explica o padeiro que já criou sete filhos com os lucros deste negócio que “não o deixa dormir sem jantar”, como conta orgulhoso. 


Divertir-se em Monte Trigo 


Crianças descansando em 
um colchão na praia
Monte Trigo não tem muitas formas de diversão. A pequena praia de seixos e alguma areia preta e fina que serve para chegada e partida dos pescadores e visitantes é o local de eleição das suas gentes. Na sua orla encontram-se sempre crianças semi-nuas queimadas pelo sol que com pequenas canas de pesca vão apanhando peixes de pequeno porte. Cada peixe trazido para terra é motivo de discussão e risos de exibição entre as crianças. Se as possibilidades não derem para seguirem com os estudos já estarão a treinar naquele que poderá vir a ser seu futuro ofício e sustento da família. 

Após a faina no mar os fins-de-semana são habitualmente dedicados ao futebol. No minúsculo campo de terra batida que fica junto à praia defronta-se Marítimos e Natchok, as duas únicas equipas locais. Durante o jogo o grito “bola ao mar” faz parar a partida até que alguém vença as ondas e traga o esférico para terra debaixo dos braços. Que recomeçe o jogo. 

Os serões das noites são passados em família à frente da televisão. A localidade recebe os sinais dos canais RTP1, RTP-África, SIC, SportTV, Record Cabo Verde e Record, mas do canal da Televisão de Cabo Verde (TCV) nem sinal. O mesmo acontece com a Rádio de Cabo Verde (RCV) que não é sintonizada em Monte Trigo. 


Electricidade das 18:30 até 23:30 

Graciete Fortes
Em Monte Trigo as pessoas conservam os alimentos em frigoríficos a gás. Isto porque a energia eléctrica só está disponível no final da tarde até antes da meia-noite, como nos conta Graciete Fortes, uma moradora da localidade de 28 anos. “Aqui só temos electricidade durante todo o dia na festa de Santo António [3 de Junho] e no fim do ano”, explica Graciete e avança que todas as casas pagam 710 escudos mensais à Câmara Municipal pela energia eléctrica. Enquanto isso afirma que não pagam a água fornecida pelo Serviço Autónomo de Águas do Porto Novo porque a empresa espera que todas as casas estejam ligadas à rede antes de começar a cobrar. “Mesmo assim aqueles que não têm água canalizada podem comprar uma lata de vinte litros por um escudo na santina local. Eu, por exemplo, com duzentos escudos tenho água para cerca de três meses aqui em casa”, diz sorrindo. 

Por causa do isolamento os serviços de saúde são assegurados por um Agente Sanitário. As mulheres grávidas têm que fazer todo o percurso pela estrada para terem os filhos em Porto Novo ou então pela via marítima para darem à luz na ilha vizinha, São Vicente. 


A despedida… 

Durante a nossa viajem por Monte Trigo paramos numa casa para almoçar. Jorge, o “guia” que nos acompanhava durante a visita deixou sua bolsa com alguns litros de feijão e peixe seco no passeio da estrada e subiu ao terraço connosco para comer. Perguntámos-lhe se não tinha medo que alguém lhe roubasse as coisas ao que ele respondeu: “quem é que vai apanhar a bolsa se não lhes pertence?” e terminou sua refeição sem grandes preocupações. Na hora da partida despedimo-nos e Jorge apanhou sua bolsa e seguiu para casa. Ainda há lugares assim em Cabo Verde

Publicada (também) no Jornal A NAÇÃO 

Odair Varela é jornalista no jornal A NAÇÃO em Cabo Verde (na ilha de São Vicente) e também autor do blog: daivarela.blogspot.com 

quinta-feira, março 08, 2012

Preservação artificial ou natural?

Estava à procura de um tema para postar no blog e, na linha das anteriores, optei por tentar perceber duas realidades similares (ilhas) e projectos com objectivos iguais (preservar a natureza), mas com um amadurecimento, aparentemente, sem nada que se lhes compare. Tal como em Cabo Verde, na Madeira também se projecta a protecção da fauna e da flora, enfim, dos espaços naturais, com legislação, regras e acções muito fortes, com vista a proteger o que é natural, mas a meu ver de uma forma artificial.
Este artificial é mais no sentido de que, em sociedades realmente humanistas e naturalistas (algo que a Humanidade ainda não conseguiu), não deveria ser preciso tanta protecção para o que nós todos deveríamos preservar de forma natural. Mas adiante, que isso é utopia. Portanto, impossível nas próximas gerações.
No caso das ilhas na foto, a Reserva Natural das Ilhas Selvagens, situada bem a sul do arquipélago da Madeira (aliás, mais perto geograficamente de Canárias), esta foi criada em 1971, sendo uma das zonas protegidas mais antigas de Portugal e, por sinal, um exemplo no que toca à preservação das espécies, sobretudo das aves marinhas. Um exemplo e um alvo constante de cobiça de 'amantes' da vida selvagem, que constantemente a procuram para passeios, caça, pesca e tudo o mais que uma lancha/iate consiga alcançar. Apesar de tudo, nestes mais de 40 anos de protecção artificial de um santuário natural, o saldo pode ser considerado positivo.
Mais perto, nas ilhas Desertas, também reserva natural, protegida sobretudo pelos Lobos Marinhos, mamíferos marinhos que desde 1990 têm merecido atenção redobrada e, com sucesso, denota-se hoje, 21 anos depois, uma recuperação desta espécie num dos únicos redutos no mundo onde é possível encontrá-los. O feito é ainda maior porque, aquelas três ilhotas estão a poucas milhas (à vista) da ilha da Madeira e, portanto, alvo de muita atenção sobre um tão frágil ecossistema.
Por fim, o Parque Natural da Madeira, completa este ano 30 anos (1982) da sua criação e pretendeu proteger, por decreto, imagine-se 2/3 de toda a ilha... A Madeira tem mais três 'mini' parques naturais (uma delas a única em Portugal exclusivamente marítima), a rede de áreas marinhas protegidas da ilha do Porto Santo e, ainda, a grande Floresta Laurissilva, património natural da UNESCO. Tudo trabalho de décadas (www.pnm.pt) e que tem merecido elogios e reparos, erros e omissões, atentados e punições, mas sobretudo, deu muita visibilidade pública a sítios que antes eram desconhecidos. Quiçá ficassem na incógnita, talvez estivessem melhor protegidos...só que isso, hoje, é difícil de quantificar e avaliar.
No caso de Cabo Verde, a protecção por decreto das áreas sensíveis do ecossistema, surge bem mais tarde e, seguramente, está muito mais atrasada no tempo. Mas, pessoalmente, entendo termos muito mais condições de base para proteger as várias áreas sensíveis englobadas na Rede Nacional de Áreas Protegidas (criada em 2003), uma vez que hoje sabemos muito mais e podemos agir muito mais rapidamente, sobretudo tomando os maus e bons exemplos dos outros para melhor actuar.
Confesso que desconhecia alguns desses sítios e espécies abrangidas nos parques e reservas naturais de Cabo Verde. Mas, das que conhecia, a maioria, sempre as apreciei, admirei e amei como uma bênção. Mesmo numa terra inóspita e, por isso, pobre como a nossa e em que a maior parte da população tem mais do que se preocupar (sobreviver) em vez de proteger a natureza como missão, sempre achei que seria muito mais fácil agir, uma vez que sendo alguns desses locais pouco conhecidos ainda estavam a salvo dos 'abutres'...
Espero, pelo que vi (www.areasprotegidas.cv) e acompanho cá de longe, que esse trabalho esteja a ser bem feito. A bem do nosso futuro, nem que seja por decreto e à custa da nossa liberdade de desfrutar dessas zonas como nossos pais e avós faziam, que se faça então a preservação artificial do que deveria ser feito de forma natural.

Francisco Cardoso

sexta-feira, março 02, 2012

Nu ka podi kema Morabeza!

Confesso que quando vi o video Strelistas apanhou-me no primeiro instante. Com aquela lente aberta e um trabalho de imagem muito criativo, o spot revela a beleza fantástica das ilhas, as pessoas, os lugares e elementos da cultura "di nos povo". Então fui vendo e pondo o crédito da "publicidade ao álcool" à parte, até que tornou-se tão banal que tirou o gosto ao filme.
imagem do video : "nos e strelista"
Partilhei o video na minha pagina do Facebook mas senti que tinha de pedir desculpa!.....a apologia que fizeram ao álcool borrou a fita. Mostra Cabo Verde sim, mas os brindes e essa cena do grupo" bebum" no bar?? A nos é Strelista?!! Foi mau!! Lamento ter partilhado mas reconheço que esta foi de muito mau gosto.

A questão é delicada. Trata-se de garantir a sustentabilidade do conceito associado à marca Cabo Verde e de proteger a autenticidade da MORABEZA. O valor do país e do seu povo é soberano, desse jeito banaliza!! É que não tem preço nenhum no mundo que pague a Cultura.

Turismo é oportunidade grande, esta a mudar a realidade do país e o potencial só é limitado pelos limites da sustentabilidade. Vamos pensar e proteger o que é nosso? A sério! Nu ka pode kema Morabeza!

*"Tud gril quebra sê pedra
Pamode manhã ka tem prutchida
Y no kema morabeza
Ma distinu triste d' ilheu
Y no spaia sês pontinha
Na pratu fundu sen ftur."


quarta-feira, fevereiro 29, 2012

O que pensa da actual visão do turismo em Cabo Verde?

O que pensa da actual visão do turismo em Cabo Verde?
Boavista, Curral Velho. Fonte: Ivan Silva

"Queremos ter um turismo sustentável e de alto valor acrescentado, que contribua efectivamente para melhorar a qualidade de vida dos caboverdeanos, sem pôr em risco os recursos para a sobrevivência das gerações futuras”

Visão do Governo - Plano Estratégico do Turismo 2010-2013

domingo, fevereiro 26, 2012

Morabeza


Morabeza
A indole cordial do homem cabo-verdiano, no vocabulário popular crioulo, é captada através do termo Morabeza, apreendido como sendo uma espécie de essência espiritual do cabo-verdiano.

Nas palavras de Leão Jesus de Pina,  a morabeza assume a feição de cordialidade e amigo, saudando de braços abertos aqueles que escolhem o Cabo Verde como terra de acolhida.

Para Gabriel Mariano esta cordialidade é devido  á mesticagem que nos teria proporcionado uma qualidade singular que advëm da nossa maneira de convivëncia social, o mestiço estaria impregnado de uma vocação de quebrar a rigidez e a agressividade dos ritos de convívio social, levando a uma "supercordialidade"- Morabeza.

Baltazar Lopes fecha o circulo :“os antagonismos não se combatem e é, por isso, com profunda harmonia que todos confraternizam e se submetem aos mecanismos de dar-e-tomar”.

quinta-feira, fevereiro 23, 2012

Alcatrazes e a morte lenta da memória colectiva


Alcatrazes, localizada na parte oriental da ilha de Santiago, apesar do estatuto de vila no século do achamento e sede da capitania do norte (Ribeira Grande era a sede da capitania do sul), por situar-se numa região agreste, pouco favorável à agro-pecuária e ao comércio marítimo, teve uma existência breve e apagada, declinando-se já na segunda metade do século seguinte ao achamento, devido ao abandono dos seus habitantes que, desde 1513, tinham começado a transferir-se, inicialmente, para Ribeira Grande e, posteriormente, para Praia - nova sede da capitania do norte.





























Em 2007, visitei pela primeira vez a localidade acompanhando um colega historiador em missão académica e revoltoso foi ter encontrado um dos patrimónios históricos do país em completa deterioração. Apesar da tentativa nos anos de 1970 do então padre responsável pela igreja, António Cachada, de restauração da mesma, na época da minha primeira visita, restavam apenas escombros da antiga igreja. Ao lado, uma nova igreja era construída ao lado da velha, dando lugar a uma aberração arquitectónica e a morte lenta da memória colectiva do lugar.

Hoje, numa total cegueira arquitectónica, alguém lembrou-se de vestir as paredes antigas de cimento. Situações do tipo mostra a falta de visão histórica, cultural e turística dos responsáveis e promotores desta terra, visto que, patrimónios desses deveriam ser preservados e transformados em espaços turísticos obrigatórios para estrangeiros e, sobretudo, nacionais.

Devemos começar a preservar o nosso património cultural e a partir de uma filosofia de turismo comunitário, reinventar circuitos turísticos alternativos ignorados pelas agências turísticas que operam por estas bandas. Penso que só assim podemos começar a inovar no sector e a falar de turismo sustentável.

sexta-feira, fevereiro 17, 2012

Que turismo para Cabo Verde? Para onde vamos?


Qual é o futuro das chamadas ilhas de vocação turistica?*

Recentemente assisti à apresentação de um destacado promotor imobiliário que no âmbito do tema "Cabo Verde, os desafios do salto" debateu sobre uma estratégia para Cabo Verde.

Segundo o mesmo promotor, Cabo Verde está localizado no corredor do atlântico por onde circulam milhões de turistas por ano, que são absorvidos pelos principais destinos como sejam o Brasil, o Caribe e até Canárias e o sul da Penisula Ibérica.

Na visão deste, o turismo em Cabo Verde é marginal e incipiente, com menos de 0,5 milhão de turistas por ano e tendo os hotéis um taxa média de ocupação de 40%.

Portanto enquanto destino turistico estamos apenas a começar e ainda não somos suficientemente competitivo para concorrer com destinos consolidados. Afirmações que contrariam a euforia em torno do turismo enquanto solução para o desenvolvimento do país.

O modelo de hotel, sol e praia onde impera o "all inclusive" é na prática o único modelo disponivel, visto que o país não está preparado para receber turistas fora dos hoteis.

E o grave nisso é que as actividades economicas que poderiam estar a abastecer os hoteis quer a nível de produtos, quer a nível de serviços, não estão preparados para fornecer com qualidade, pelo que também ficam à margem desse apetecivel mercado.

Desconheço os dados mais recentes mas já em 2008 Cabo Verde recebeu cerca 333.4 mil turistas, agora imaginem o que isso representa em termos de refeições, serviços, tours etc., caso houvesse mais participação das empresas "di tera" no fornecimento aos hotéis.

Teriam imediatamente um novo mercado, naturalmente mais exigente, mas com maior poder de compra e apetência para o consumo do que o mercado doméstico.

Não resta dúvida que aí está uma grande oportunidade para as empresas nacionais exportarem aqui dentro e isso ilustra, a meu ver, a falta de conexão existente entre a chamada industria do turísmo e as restantes actividades económicas pelo que o incremento do número de hoteis e projectos nessa área já não ilude e até assusta.

O potencial do turismo funcionar como gatilho para a promoção da actividades económicas local é uma visão antes de tudo integrada Esta é a grande deficiência estratégica central. Concentrado nos investimentos hoteleiros, grande parte todo o esforço que o estado despende em recursos promocionais acaba beneficiando em exclusivo as grandes cadeias e o modelo all-inclusive numa escala desproporcional. Repare na distribuição de dormidas por tipo de unidade hoteleira. Já quase não temos pousadas. Quando vejo pousadas como a Residencial Nazare na cidade da praia, com uma qualidade excelente lutando para sobreviver... Isso é sustentável?

A agravar-se mais ainda há uma completa falta de sintonia com a cultura e o social. De que interessa conhecer uma terra e não se cruzar culturas e vivências?

Conforme Leão Correia e Silva, Cabo Verde vive ao longo da história, ciclos de oportunidades que se fecham sem que se consigam aproveita-las para catapultar as ilhar para um novo patamar de desenvolvimento. É assim desde o povoamento.

Na actual conjuntura o turismo é sem dúvida uma dessas janelas de oportunidades, mas dado o modelo em curso, a questão é para onde vamos?

terça-feira, fevereiro 14, 2012

O Precioso e o Cheque em Branco.

O Precioso. Créditos: Miguel Monteiro



Esse é o Precioso! O meu irmão fez essa foto na Boavista e quando eu vi, lembrei-me logo das minhas férias de infância na Boavista. Lembrei-me de episódios únicos como assistir a luta das tartaruginhas a furar a casca e a atitude de empreendedora  de pular e contornar obstáculos rumo ao mar. É como se obedecem a um game plan definido no ciclo da vida que garante a sobrevivência da especie e contribui para o equilíbrio dessa biodiversidade. 

Infelizmente tem muita gente de olho no Precioso e apesar de uma maior protecção legal e institucional as ameaças à protecção desta espécie está a cada dia mais ameaçada. Tudo bem o Precioso tem um monte de inimigos dentro de água mas com esses a tartaruga usa a carapaça para se defender e à medida que vai crescendo nem os tubarões metem medo. Se fosse esse o problema estava tudo equilibrado e em harmonia.

O problema do Precioso é nosso também. Estamos todos expostos à sorte ao azar e à oportunidade de quem for o mais esperto a lançar mão aos nossos recursos para enriquecimento exclusivo. Enquanto os operadores nacionais são deixados à margem há investidores internacionais a aproveitarem-se do "abre pé" para se instalarem da maneira que melhor lhes convém. Além da construção de hotéis em zona privilegiada (no meio das dunas, em cima das praias) ainda beneficiam-se das condições extraordinárias de atracção do investimento externo. 
Google Earth View - Costa Sul da Boavista. Na linha da praia ao centro está o III RIU  Touareg da Boavista

Recentemente o Ministro do Turismo admitiu em entrevista à RTC que o Ministério ainda não tem um plano de acção. Esse navegar sem bússola é uma irresponsabilidade e evidencia uma visão reducionista do potencial de Cabo Verde enquanto destino turístico. As facilidades concedidas orientam-se para a realização de liquidez financeira a curto prazo e hipotecam permanentemente o desenvolvimento equilibrado dos recursos naturais, alienam o potencial da economia local e o seu entorno socio-cultural.  


Pior para nós é que, ao contrário do Governo, os investidores parecem ter um game plan. O hotel da imagem acima é o RIU TOUAREG que foi concluído à um ano. O 3o da Boavista e o 5o de Cabo Verde. Localizado mesmo em cima da Praia de Lacacão que é considerado um dos santuários de nidificação da espécie carreta-carreta. É também um ecosistema riquíssimo constituído pelas praias mais extensas de Cabo Verde onde se incluí a praia de Curral Velho e Santa Mónica.

Alguém que explique o porquê tanta exclusividade?

Claro que já há muitas vozes a se levantarem para fazer frente à problemática do turismo e há muito mais conscientização para as questões de impacto ambiental. Mas enquanto sociedade, os caboverdianos não tem sabido fazer frente a essas questões, estamos mudos. Desse modo o esforço de ONG's como o Natura 2000 para monitorar e desenvolver iniciativas que minimizem o impacto da actividade turística no ambiente ficam cada vez mais pressionados e isolados na sua acção.

Fatalmente estamos a perder terreno. Acabou de ser anunciado aqui que o RIU, Resorts & Hotels assinou um contrato com o Natura 2000 e passa a ser o único representante legal do projecto no país respondendo por todas as questões ambientais, negociando com o Governo e outras entidades ou fundações. 

O acordo prevé em troca uma contribuição anual ao Natura 2000 que continuará a fazer estudos e as auditórias em relação à protecção ambiental especificamente relacionadas ao trabalho que se tem feito com as tartarugas. A RIU, Resorts & Hotels se propõe a envolver-se activamente na protecção ambiental. Deixo as contrapartidas para vossa interpretação. 

"RIU guests will also have the opportunity to participate actively in environmental protection activities. Once a week, the hotels’ theatres will show a documentary on biodiversity in Boavista, while their entertainment department will organise educational games for children, and also turtle outings and releases for all guests. In addition to this, all guests will receive information on the activities of Natura 2000 who organise voluntary programmes and different initiatives throughout the year, which can involve visitors as well as the local population."

Comparado com o valor do trabalho da ONG que trabalha à 12 anos na protecção da espécie, essas contrapartidas são ridículas e vão criar mais espaço de manobra ao investidor para continuar a usufruir em exclusivo da terra dos nossos avós. De outro modo se de facto há essa consciência ecológica a RIU não precisa ser dono do PROJECTO NATURA 2000 mas antes devem assumir verdadeiramente a responsabilidade social. Ex.: Segundo relatado por jornalistas no terreno o lixo acumulado pela dinâmica dos 16 vôos semanais que chegam à ilha amontoam-se numa extensão de 5km e já é considerado a maior lixeira de Cabo Verde. Isso a escassos quilómetros do Resort.

Assim não nos iludamos. O acordo com o NATURA 2000 é antes um duro golpe. Um cheque em branco. Contrata um dos principais parceiros na área ambiental do país e depois de 5 resorts almeja agora é dar o cheque mate e invadir definitivamente o ninho do Precioso. Desculpa mas não tem preço.

"Ta flado ma na tera di segu, kololo e Rei ma guentis Turismo Sustentável é precioso dimas pa nu dexa bai!

sábado, fevereiro 11, 2012

Que políticas de juventude em Cabo Verde?


Sendo que a grande maioria da população de Cabo Verde é constituída por jovens, fácil será depreender-se que:

Se há uma elevada taxa de desemprego, os jovens deverão ser os mais afectados;
Se há vários grupos musicais, noites caboverdeanas, novas vozes a despontar, muitos deles deverão ser jovens;
Se há um novo fenómeno de violência – gangs e thugs – muitos dos seus constituintes deverão ser jovens;
Se existem grupos de dança, de teatro, artistas com talento, muitos deles deverão ser jovens;
A existirem poetas, escritores, artista plástico e artistas nas mais variadas áreas, provavelmente muitos deles serão jovens.

Fácil de encontrar uma relação, não? Talvez para ti, talvez para mim. Talvez. Mas vamos então assumir que a grande massa artística de Cabo Verde é constituída, grosso modo, por jovens. Vamos assumir que a juventude com arte está dedicando horas da sua inspiração (graças, muitas vezes, à falta de ocupação) a escrever versos que te farão suspirar, contos que te farão viajar e a pintar quadros de rara beleza. Essa mesma juventude está agora a esculpir obras de se admirar mas também está dedicando horas da sua inspiração memorizando textos porque você quer mais e melhor teatro, afinando a voz e a guitarra porque você exige boa música ao jantar.

Com tantos jovens que andam pela rua com um instrumento musical às costas, outros com os cadernos cheios de versos e personagens ou outros a caminho de casa (as vezes de madrugada) depois de mais um ensaio, constate-se que, se não pela arte, tanto esforço só pode dever-se aos incentivos. Sim, porque somente pelos incentivos é que compreende-se que um jovem poeta ou escritor dispensa horas dando vida a personagens e a sentimentos que verá brevemente publicado em livro. Ou que um jovem pintor pinte quadros, paredes, papéis ou outra coisa qualquer que encontrar na certeza de ver seu trabalho exposto e reconhecido. Somente pelo incentivo é que um jovem dançarino treina novos passos ou que um jovem músico toca até sentir cãibras nos dedos.

Porque, não se iluda, há uma competição secreta e feroz entre os jovens artistas para ver quem consegue ficar com incentivo. Bem, talvez não é a competição que é secreta mas sim o próprio incentivo. É tão secreta que não se fala nem se escreve sobre ela. De tão secreta que ela é, diz-se que não existe. Pronto! Revelei-vos um segredo: de que ela não existe. A competição, não o incentivo.

O que é que se entende por Cultura em Cabo Verde? Que evento cultural juvenil recebe o incentivo? Que evento cultural juvenil? Cabo Verde precisa com urgência de uma política cultural juvenil. A Cultura é uma das poucas áreas em que o trabalho está quase todo feito. O jovem artista já tem a sua obra quase pronta. O jovem artista é uma obra. Só precisa do incentivo para expô-la. Pois sim, poderiam argumentar, o incentivo é usado pelo Carnaval para premiar figurantes com o melhor andrajo. Também, o incentivo é usado nos Festivais de Música em grupos que durante a sua estadia não fazem uma única troca de experiência com os jovens artistas.

O segredo foi revelado. O incentivo existe. Agora o próximo passo é usá-lo em benefício da grande massa da população de Cabo Verde: os jovens. Porque faz-se necessário usar o incentivo em áreas culturais como:


Literatura e Música, Artes Plásticas e Teatro, etc. e tal.

Criar condições para que, após concurso, os jovens artistas possam ver seus trabalhos tornados públicos. Que seja em uma obra conjunta. Um jovem poeta ficará imensamente mais feliz de ver um único poema seu publicado do que todos eles somente no seu caderno de rascunho. Idem aspas para um jovem músico. Com uma política cultural juvenil definida para uma publicação por ano, teríamos quatro obras disponíveis no mercado nacional em quatro anos e muitos jovens artistas felizes.

Desenvolver políticas de valorização do artista para evitar que um jovem pintor tenha que vender seus quadros para poder comprar tintas e pincéis para pintar novo quadro. Outro ciclo vicioso a ser quebrado é o do jovem talentoso que não consegue fazer uma exposição por não ser conhecido e não ser reconhecido por não fazer exibições. Novamente, um jovem artista irá preferir expor em conjunto do que ter todos os seus quadros encostados numa parede da casa.

Nota-se que hoje em dia a cultura que não é comercializável não é incentivada. Não se pode negar o peso nos roteiros turísticos dos Festivais mas também não pode-se esquecer que originalmente essas manifestações culturais não foram projectadas a pensar no turista, mas que conseguiram ganhar este peso e estatuto ao longo dos tempos. Foram precisos muitos anos de árduo trabalho para se chegar a esse estágio. É esse mesmo empenho que é necessário para projectar e impulsionar a criação artística na nossa juventude.

Com uma política de juventude e cultura séria e credível será possível a médio prazo, apresentar ao público, jovens artistas de qualidade nas mais diversas áreas. E se com isso conseguirmos ter turistas a visitar galerias de arte, a assistir teatro e a comprar livros e álbuns musicais, tanto melhor. A Cultura e a Juventude agradecem.

Publicada (também) no Jornal NhaTerra Online 
Publicada (também) na Revista Buala Cultura Contemporânea Africana



Odair Varela é jornalista no jornal A NAÇÃO em Cabo Verde (na ilha de São Vicente) e também autor do blog: daivarela.blogspot.com 

quarta-feira, fevereiro 08, 2012

O poder da palavra

A notícia que está a 'bombar' nesta pequena ilha turística que é a Madeira é um exemplo de desenvolvimento infra-estrutural, na construção de túneis, pontes e vias rápidas, mas que tal aproveitamento dos fundos europeus acaba por ser um mau exemplo no que toca à repartição equilibrada, sobretudo no apoio ao desenvolvimento sustentado da economia e das empresas.
As palavras ditas por Angela Merkel, chanceler alemã numa conferência com jovens, acabou por cair que nem uma bomba na convicção que muitos madeirenses tinham que tudo o que fora feito nos últimos 25 anos - desde a adesão de Portugal à União Europeia - era vista como exemplar pelos parceiros europeus.
A verdade é que as estradas trazem desenvolvimento, mas numa perspectiva enviesada, uma vez que garantem melhor circulação de bens e pessoas, mas não de forma sustentada quando todas as 'baterias' são apontadas num alvo, a infra-estruturação. E na Madeira, quem a vê hoje e quem a conheceu há 15 e 20 anos, só pode concordar com a nova 'dama de ferro' da Europa.
Como já referi no anterior post, a Madeira devia ser vista como exemplo a seguir no que tem de experiência no âmbito do turismo e da potencialização das suas mais-valias naturais, mas também a não seguir no que de mal foi feito em termos infra-estruturais.
Há dois ou três anos, Egon e Astrid Roes, turistas alemães, foram homenageados pelo Governo da Madeira, pela sua 75.ª visita ao arquipélago. Não são caso único, aliás, é bem frequente este tipo de turistas, repetentes, amantes da Madeira a da sua beleza. Visitam, gostam, regressam, falam bem aos amigos e familiares, que também muitas vezes aceitam o 'convite'. Essa é uma mais-valia que o Turismo da Madeira tem e nem precisou fazer muito, bastou deixar a natureza fazer o seu trabalho e o saber receber das suas gentes fazer o resto.
Mas há sempre um senão. A imagem que acompanha este texto foi tirada há cerca de dois anos, numa das zonas mais turísticas do Funchal, capital da Madeira, e por sinal uma das melhor infra-estruturadas, com tudo o que o urbanismo exige em termos de canalização dos esgotos, escoamento de águas residuais e pluviais... e ao nível das estradas, tudo alcatroado, zonas ajardinadas, passeios para peões, estradas relativamente largas, iluminação, sinalização vertical e horizontal, etc, etc.
Pelo menos era o que parecia. A verdade é que no dia 20 de Fevereiro de 2010 esta zona ficou assim. E nem foi das mais afectadas do Funchal, pois não fica no centro, que foi globalmente devastada pela água das chuvas e pela 'revolta' das ribeiras.
Dizem os entendidos, geógrafos, urbanistas, arquitectos, engenheiros, ambientalistas e afins que tudo deveu-se ao excesso de construção, sobretudo a subterrânea que estrangulou muitos cursos de água que a natureza, ao longo de séculos e milénios, foi criando. É claro que há outras vozes que dizem o contrário, que são causas cíclicas.
Ou seja, a meu ver, a intervenção do homem, uma vez mais, foi o causadora de estragos inimagináveis no dia anterior... 42 mortos, oito desaparecidos, feridos às dezenas, desalojados às centenas, prejuízos materiais aos milhões de euros, e anos de desenvolvimento, cuja única sustentação foi mesmo a falsa sensação de desenvolvimento, deitados literalmente ao mar.
O que se tem assistido em Cabo Verde nos últimos anos tem sido algo muito interessante, mas muito perigoso se não acompanhado pelos exigentes e custosos estudos de impacte ambiental. Não faltam exemplos por este mundo fora de projectos sem estes estudos, que os investidores tanto detestam, os políticos fazem-se esquecidos e, no final, o povo acaba por sofrer as consequências... muitas vezes com a própria vida!
Cabo Verde pode ter muito a aprender com os erros e todos os maus exemplos. Mas se, tal como em muitos outros casos, quem tem o poder não tomar a opção certa de defender o bem público, mais tarde ou mais cedo é o povo que acaba por sofrer as consequências. E, em último caso, a economia é que retrocede anos por causa das más opções.
Voltando ao princípio, a chanceler alemã parece ter sido mal traduzida. Até foi chamada de "ignorante". O que parecia ser uma crítica à opção de construir sem olhar ao equilíbrio com o apoio ao tecido empresarial, afinal foi um exemplo dado para lembrar aos jovens, ao futuro, que por mais infra-estruturas que se criem há que olhar a todos os sectores para que o crescimento sustentável da economia seja uma realidade. E se, por um infeliz acaso (da natureza, por exemplo) algo correr mal com um sector (o turismo, por exemplo), os outros que foram acautelados e desenvolvidos ao mesmo ritmo, saberão responder e alavancar um país, uma região, uma ilha, uma cidade, uma comunidade...
É este o exemplo que o poder da palavra da 'Senhora Europa' quis ensinar, não só aos jovens alemães, como europeus, aos portugueses, madeirenses... e até cabo-verdianos, se estes quiserem aprender. Não há futuro possível sem desenvolvimento sustentável.

Francisco Cardoso

sexta-feira, janeiro 27, 2012

Porto Grande terá terminal de Cruzeiros em 2014



O Governo Holandês promete financiar 35% do novo terminal de cruzeiros a fundo perdido e a Enapor busca parceiros estrangeiros para financiar os restantes 65% do orçamento de 30 milhões de Euros.

Sabendo do impacto global dessa infrastrutura no desenvolvimento do turismo de São Vicente e de toda a região norte não será esta também uma oportunidade de envolver privados nacionais e integrar uma estratégia conjunta para financiar, construir e explorar?

A perspectiva do terminal num momento em que se prevê um aumento do número de cruzeiros é animadora mas convém tirar o máximo partido das potencialidades inclusive a do desenvolvimento do turismo interno.

Fonte: Jornal da Noite da TCV de 24 Jan 2012

terça-feira, janeiro 24, 2012

Dicionário Histórico de Cabo Verde - 4a Ed.

"Although Cape Verde is an open society and there are no longer manysecrets about how it is run, and while large numbers of tourists now visitit quite happily, relatively little is known about it abroad. Facts and figures are lacking, including fairly basic ones. Its long and often tragic history is inadequately explored and explained. And its culture, which has attracted attention worldwide, could still benefit from deeper understanding. Since 1979, the Historical Dictionary of the Republic of Cape Verde and its successors have been filling this gap."

Mayra Andrade

Q&A with The Economist - Jan 23rd 2012, 13:28 by D.H. | NEW YORK

Duas frases marcantes da entrevista da artista:

"I don’t think I really chose music—instead, music chose me. From the moment I was born, I felt like I was surrounded by the sounds of the famous Cape Verdean singers like Bana, and Brazilian musicians such as Caetano and Milton Nascimiento. I was being seduced by this acoustic sound, and I just couldn’t ignore it."

"I really don’t like to expose my private life. But at the same time I really want to invite people to be a part of my life—to understand who I am through my voice. It’s almost like when you’ve become so close with someone that you understand them without them having to say a word. In this business, when you pour your soul into your music, you feel very exposed. It’s like you aren’t allowed to make mistakes—either they love you or hate you. This type of intimacy can be very frightening. We’ll see where my musical journey takes me, and see how willing people are to accept what I’m giving them. But I think it’s important that the world accepts African musicians for who they really are." 

read more at The Economist


segunda-feira, janeiro 23, 2012

Uma verdadeira ponte precisa-se!

Turismo enquanto força motora do desenvolvimento ou enquanto divisor de águas?

Quando se fala na sustentabilidade do turismo recordo-me da afirmação de um especialista de que a actividade, no seu todo, tem de beneficiar o visitante e o residente. O desiquilibrio nas condições de oferta exclusivas para beneficio do visitante compromete o potencial do destino. A busca de um honesto equilíbrio na oferta turistica que tenha em conta a realidade da economia local, os valores culturais e os recursos ambientais é fundamental para a integração do turismo com a economia real.

Em Cabo Verde, apesar do discurso político de "estarmos a caminhar para a sustentabilidade", vivemos a dicotomia e a coexistência em paralelo da economia do turismo e da economia local. Apesar do peso do turismo no PIB o modelo "all-inclusive" é o grande motor que movimenta cerca de 300.000 turistas anuais e a meta do governo é incrementar esses números e atingir os 500.000 turistas nos próximos 2 anos. Contudo para a economia local esses números pouca diferença fazem. O all-inclusive é também all-exclusive em relação à realidade local e nesse caminho não se perspectiva nenhuma forma de integração das peças que fazem movimentar a economia local com o turismo.

Neste cenário todo o ganho deste modelo de oferta turística está no "cash" que se gera a curto prazo descurando todo e qualquer malefício presente ou futuro. Enquanto isso o desemprego, a pobreza, as perturbações sociais, a criminalidade, a degradação ambiental e o agravamento dos velhos problemas relacionados à insularidade avolumam-se e agravam-se com a falta de uma estratégia integrada de desenvolvimento.

É fundamental reverter esse cenário. A actividade turística é de tal forma transversal que afecta toda a actividade económica: da agricultura aos serviços toda a sociedade pode se beneficiar de uma verdadeira integração dos recursos da oferta turística. Pelas especificidades e diversidade da procura turística este sector  pode funcionar como o gatilho para o desenvolvimento. Se verdadeiramente houver uma aposta numa visão de desenvolvimento que tenha o turismo como ancora poderemos atacar os problemas do país de forma estratégica e integrada com o esforço que cada profissional exerce na labuta diária. Cada sector de actividade, cada empresa, cada estudante, cada familia e cada caboverdiano esclarecidos quanto a um propósito comum. Para além da remuneração directa o recém graduado em hotelaria precisa compreender o sentido do atendimento e como o sua boa prestação reflecte-se no sucesso do destino Cabo Verde. Essa busca pela qualidade passa por um sentido de missão e alinhamento de esforços.

Mas para começar essa prática requer um discurso ético. O estado enquanto promotor tem de assumir o discurso da sustentabilidade na prática. Discursos e planos sobre a sustentabilidade não estão reflectidos na prática e nem estamos para aí a caminhar se as condições que se tem criado beneficiam primeiro e unicamente o modelo all-inclusive descurando-se as necessidades locais.

Para além das insuperáveis condições de atracção do investimento externo, quando o governo investe na promoção do destino Cabo Verde, disponibilizando orçamentos para publicidade e outros recursos de comunicação está a beneficiar directamente os grandes operadores que já tem montado uma cadeia de atracção de turistas dos mercados de massa para os grandes resorts no Sal e na Boavista. Nessas condições como o privado nacional pode competir? 

De outro modo o enfoque na sustantabilidade está baseado em standards internacionais definidos por entidades que certificam a qualidade de um destino. A certificação abre caminho para mercados turísticos muito especificos. Certamente mais exigentes quanto à qualidade do destino, mas mais diversificados, interessados na qualidade de vida da população local e com elevado poder de compra. É o turismo responsável conhecido também como o turismo ecológico. 

Em Cabo Verde, pelas especificidades das ilhas a actividade económica, qualquer que ela seja, tem de ser profundamente responsável. O modelo all-inclusive pode coexistir com outras formas mais sustentáveis de oferta turistica mas tem de assumir a responsabilidade social. A implantação dos mega resorts na Boavista e os planos para a instalação de mais hoteis tendo em vista unicamente os números é a evidência da política real que existente no país. Consequentemente os problemas do país continuam a avolumar-se, os esforços multiplicam-se mas soluções parecem andar a passo de tartaruga ou de acordo com a politica neo-liberal a aguardar que a "mão-invisível" funcione.

terça-feira, janeiro 10, 2012

O turismo sustentável pode irradicar a pobreza em Cabo Verde?

No ano de 2000 as Nações Unidas(NU) identificou a pobreza como um dos maiores desafios mundiais e fixou como um dos objectivos do desenvolvimento do milénio a erradicação da pobreza extrema, acabando com a fome e a miséria no mundo. A Organização Mundial do Turismo (OMT), respondeu a esse apelo das NU e lançou o programa ST-EP em 2004, com o objectivo principal de apoiar projectos de desenvolvimento sustentável, provando que através da implementação do turismo sustentável é possível aliviar a pobreza e melhorar a qualidade de vida das populações locais que recebem os turistas. O turismo, é hoje, um fenómeno sócio-económico, provocando impactos positivos e negativos nas zonas que acolhe os turistas. Entre os aspectos positivos do turismo destacamos a criação de emprego tanto directo como indirecto, a geração de renda, especialmente, em países pobres e em desenvolvimento. É importante notar que a força do turismo tem maior impacto na economia dos países em desenvolvimento do que nos desenvolvidos. Perante o contexto internacional poderemos constatar que o sector do turismo foi um do menos afectado pela crise. O Governo de Cabo Verde considere a pobreza como um tema da agenda política e um discurso em que a oposição e o Governo sempre estarão de acordo, além de reunir a vantagem de favorecer a globalização da solidariedade internacional. Segundo o Recenseamento Geral da População e Habitação de 2010, estimava em Cabo Verde uma taxa de pobreza que rondava os 24% da população e uma taxa de desemprego de 10.7%. Sendo o sector turístico um dos principais pilares de desenvolvimento do país, a criação de um programa de turismo sustentável próximo das populações locais será capaz de reduzir a pobreza. A posição do Banco Mundial sobre o turismo e a luta contra a pobreza, é a de que, as suas acções devem se basear, essencialmente, na parceria entre o sector público e o privado, com ênfase no estímulo ao empreendedorismo e ao apoio efectivo a pequenas e micro empresas, uma vez que elas predominam no mercado do sector de turismo. Com certeza, o turismo pode ser um dos caminhos para proporcionar o alcance das metas estabelecidas pelo Governo em programas de natureza social. O segmento do ecoturismo, turismo de natureza, turismo rural, turismo cultural, talvez sejam os mais ricos em possibilidades, isso porque, além de preservar áreas ecologicamente sensíveis e patrimónios naturais, promove o turismo sustentável e a capacidade institucional para fortalecer as comunidades locais e rurais, provocando, consequentemente, a redução das desigualdades sociais. O projecto Porto Madeira, promovido pela ONG Intercultural ABIDJAN é um exemplo de empreendimentos com inserções da população local em programas de ecoturismo e turismo cultural com benefícios diversos sob os aspectos educacionais, cultural e do meio ambiente, exercendo grande impacto social e económico na localidade. Porto Madeira é uma localidade do Município de Santa Cruz, situado a cerca de 20 minutos da Cidade da Praia e a 15 minutos de Pedra Badejo, na encosta do Monte Bidela, uma das principais elevações da Ilha de Santiago. O desenvolvimento de programas, projectos e acções para impulsionar os segmentos do ecoturismo, do turismo rural, turismo activo, turismo de natureza, do turismo de eventos, de negócios e cultural, certamente resultará em efeitos multiplicadores positivos nos negócios que movimentam as redes hoteleiras e de bares e restaurantes, as empresas aéreas, rodoviárias e marítimas, as operadoras de turismo e de comércio de artesanato, com reflexos imediatos na distribuição de renda da população, contribuindo, assim, com a redução do nível de pobreza da população caboverdiana. É preciso um planeamento orientado para um turismo sustentado, assente na equidade social e respeito ao meio ambiente. Planear é um factor importante para que qualquer projecto possa atingir os seus fins. Fazer uma análise cuidada da capacidade de carga da área é fundamental para evitar a exploração desenfreada da zona e a potencial distribuição dos recursos. Planear a longo prazo dá uma noção maior dos proveitos a obter. O desenvolvimento sustentável do turismo oferece oportunidade para uma relação saudável entre o visitante e o receptor. Ludmila Fortes

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